
Antes do azul, há mar de poesia em cada instante...
Eu falo, mas ninguém escuta... às vezes acho que as pessoas são surdas... ou mudas?
Eu falo, mas ninguém reage... Só me olham, gesticulam e continuam sua trilha.
espalhando-os além das linhas reais e concretas do viver (o nosso abstrato ser)
Seguindo sem atalhos, pulando PEDRAS e marcando o chão... (vou...Ar)
Meu pensamento é fluxo, água corrente, correndo (para o abundante mar)...
Tento agarrar sua abundância (ele esta com correntezas selvagens dentro de si), mas só me restam gotas nas mãos (gotas e linhas riscadas pela força da agua).
Enfim, pelo menos estou ensopada de idéias... (seque-se ao sol, pois assim as gotas aderem ao corpo)
Ele lisonjeado sorri!
Minhas palavras são a metade de um diálogo obscuro continuando através de séculos impossíveis.
Agora compreendo o sentido e a ressonância que também trazes de tão longe em tua voz.
Nossas perguntas e respostas se reconhecem como os olhos dentro dos espelhos.Olhos que choraram.
Conversamos dos dois extremos da noite,como de praias opostas. Mas com uma voz que não se importa...
E um mar de estrelas se balança entre o meu pensamento e o teu.Mas um mar sem viagens.
Guardar uma coisa
não é escondê-la
ou trancá-la.
Em cofre não se guarda
coisa alguma
Em cofre perde-se
a coisa à vista
Guardar uma coisa é
olhá-la, fitá-la, mirá-la
por admirá-la, isto é,
iluminá-la ou ser por ela
iluminado
Guardar uma coisa é
vigiá-la, isto é,
fazer vigília
por ela, isto é, velar por ela,
isto é, estar acordando
por ela,
isto é, estar por ela ou ser
por ela.
Por isso melhor se guarda
o vôo de um pássaro
Do que pássaros sem vôos.
Por isso se escreve, por
isso se diz, por isso
se publica,
por isso se declara
e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele,
por sua vez,
guarde o que guarda:
Guarde o que quer
que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que quer guardar.
Uma, duas, três... infinitas vezes minha vida roda mundo gigante gira, gira, gira ao redor do Sol, trezentas e sessenta e cinco vezes, me vejo entre altos e baixos, que não param de me entontecer...
acordalevantabanhodentesroupaspessoas
banhodentesroupaspessoas
roupaspessoas
pessoas
pessoa
?
Parei
Estático, interrompi meu giro e olhei... Finalmente Vi.
Alguém que jamais tinha visto, fizera meu mundo parar. Agora não fazia sentido girar. pra quê girar? Entontecer? Só conseguia abrir bem os olhos e olhar nos olhos daquele que me espiava.
ELE- Também parou.
Dois mundos agora pararam de girar. Duas voltas não seriam completadas. Ele e Eu, Eu e Ele. Olhávamos sem piscar, pra dentro da alma de nossos olhos. Buscávamos entender cada gesto, cada traço, marca.
EU- Tentava decifrar quantos giros tivera dado, pois alguns traços já acentuavam sua longa jornada.
ELE- Espiava meus sinais e cicatrizes, queria saber de minhas marcas e de minhas dores.
Fui sentindo uma enorme felicidade crescer dentro de mim... E neste instante, vi um largo sorriso dele se abrir...
Pensei: É a primeira vez que alguém pára seu mundo para me olhar.
Ele também parecia sentir o mesmo, seus olhos denunciavam tamanha alegria.
O silêncio era preenchido por nós, neste instante, não cabia nenhuma palavra ressoada, nem voz, nem gesto.
Por um momento, tive vontade de abraçá-lo, de agradecer, mas estático, só uma lágrima conseguiu rolar do meu olho direito. Ele , nessa hora, tentava dissimular a lágrima que rolava do esquerdo olho.
Lembrei de todas as voltas que dei... Mas nenhum momento comparava-se aquele.
Sempre girei muito rápido, atropelando sentimentos, falas, gestos, pessoas...
Enfim, parei e só sabia olhar. Tentava gravar em minha mente cada instante daquele, para jamais esquecer.
Mas, aquele silêncio ia me saciando dos vazios e me enchendo de vontades: abraçarbeijarfalarperguntarcalar.
Não sabia o que fazer e também notara a sua mesma indecisão.
Ambos, Ele e Eu, Eu e Ele, receosos e inundados de medo. Medo de perder o momento.
Por que sentíamos isso? Não sei, talvez por não existir uma sessão de "achados e perdidos" para os instantes. Então, não nos era permitido desperdiçar aquele precioso existir.
Respirei fundo – Ele também respirava, controlando a ansiedade- sorri para ele, que também me sorria. Sabia que deveria ir além. Mesmo temendo, levantei a mão e acenei, ele fizera o mesmo.
Pensei nos sentires indescritíveis que me tomara e que Ele também sentia.
Mesmo tremendo por dentro e com uma agonia na barriga, um bicho buliçoso, Eu, avançava os passos. Ele? Não recuava, ao contrário, seguia em minha direção, olhando-me bem nos olhos.
Eu imaginara sua voz, seu cheiro e como seria a maciez de sua pele.
Quando percebi, estávamos parados, centímetros, olhando-nos nos olhos, esperando, na menor distância entre dois corpos, porém ainda distantes, separados pelo receio de agir.
Decidi: Já que nossos mundos estão parados, então que possamos gira-los juntos, querendo deixar de imaginar sua voz, seu cheiro e como seria a maciez de sua pele,respirei pausadamente, ar nos pulmões, olhos cerrados, levei minha mão em seu rosto e Ele sua mão a minha face, sentíamos, nos sentíamos e agora o palpitante coração me fazia ver ...
O que fazer se não compartilhar sentires, espalhando-os além das linhas reais e concretas do viver?
Seguindo sem atalhos, pulando pedras e marcando o chão...
Meu pensamento é fluxo, água corrente, correndo... Tento agarrar sua abundância, mas só me restam gotas nas mão. Enfim, pelo menos estou ensopada de idéias...