19 de julho de 2008

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Uma, duas, três... infinitas vezes minha vida roda mundo gigante gira, gira, gira ao redor do Sol, trezentas e sessenta e cinco vezes, me vejo entre altos e baixos, que não param de me entontecer...

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Parei

Estático, interrompi meu giro e olhei... Finalmente Vi.
Alguém que jamais tinha visto, fizera meu mundo parar. Agora não fazia sentido girar. pra quê girar? Entontecer? Só conseguia abrir bem os olhos e olhar nos olhos daquele que me espiava.

ELE- Também parou.

Dois mundos agora pararam de girar. Duas voltas não seriam completadas. Ele e Eu, Eu e Ele. Olhávamos sem piscar, pra dentro da alma de nossos olhos. Buscávamos entender cada gesto, cada traço, marca.

EU- Tentava decifrar quantos giros tivera dado, pois alguns traços já acentuavam sua longa jornada.
ELE- Espiava meus sinais e cicatrizes, queria saber de minhas marcas e de minhas dores.

Fui sentindo uma enorme felicidade crescer dentro de mim... E neste instante, vi um largo sorriso dele se abrir...
Pensei: É a primeira vez que alguém pára seu mundo para me olhar.
Ele também parecia sentir o mesmo, seus olhos denunciavam tamanha alegria.


O silêncio era preenchido por nós, neste instante, não cabia nenhuma palavra ressoada, nem voz, nem gesto.

Por um momento, tive vontade de abraçá-lo, de agradecer, mas estático, só uma lágrima conseguiu rolar do meu olho direito. Ele , nessa hora, tentava dissimular a lágrima que rolava do esquerdo olho.

Lembrei de todas as voltas que dei... Mas nenhum momento comparava-se aquele.

Sempre girei muito rápido, atropelando sentimentos, falas, gestos, pessoas...

Enfim, parei e só sabia olhar. Tentava gravar em minha mente cada instante daquele, para jamais esquecer.

Mas, aquele silêncio ia me saciando dos vazios e me enchendo de vontades: abraçarbeijarfalarperguntarcalar.
Não sabia o que fazer e também notara a sua mesma indecisão.

Ambos, Ele e Eu, Eu e Ele, receosos e inundados de medo. Medo de perder o momento.

Por que sentíamos isso? Não sei, talvez por não existir uma sessão de "achados e perdidos" para os instantes. Então, não nos era permitido desperdiçar aquele precioso existir.

Respirei fundo – Ele também respirava, controlando a ansiedade- sorri para ele, que também me sorria. Sabia que deveria ir além. Mesmo temendo, levantei a mão e acenei, ele fizera o mesmo.

Pensei nos sentires indescritíveis que me tomara e que Ele também sentia.

Mesmo tremendo por dentro e com uma agonia na barriga, um bicho buliçoso, Eu, avançava os passos. Ele? Não recuava, ao contrário, seguia em minha direção, olhando-me bem nos olhos.

Eu imaginara sua voz, seu cheiro e como seria a maciez de sua pele.

Quando percebi, estávamos parados, centímetros, olhando-nos nos olhos, esperando, na menor distância entre dois corpos, porém ainda distantes, separados pelo receio de agir.

Decidi: Já que nossos mundos estão parados, então que possamos gira-los juntos, querendo deixar de imaginar sua voz, seu cheiro e como seria a maciez de sua pele,respirei pausadamente, ar nos pulmões, olhos cerrados, levei minha mão em seu rosto e Ele sua mão a minha face, sentíamos, nos sentíamos e agora o palpitante coração me fazia ver ...

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